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A monogamia pode estragar um relacionamento?

Atualizado: 13 de jul. de 2021

Quais os possíveis malefícios de uma escolha irrefletida pela monogamia?



É óbvio que uma opção espontânea e consciente pela monogamia não traz malefício nenhum pra ninguém e pra nenhuma relação. A questão é saber se essa escolha está sendo feita de forma realmente consciente e espontânea ou de forma compulsória, “por livre e espontânea pressão”.


O fato é que vivemos em um mundo mono-normativo, então muitas vezes quando iniciamos uma relação não nos é dada a opção de escolha. É muito raro que um casal que esteja iniciando um namoro pare para discutir se prefere uma relação monogâmica ou não monogâmica. Em todas as vezes que iniciei um relacionamento, nunca me fizeram essa pergunta e acredito que nunca te perguntaram também leitor.


Todos nós viemos de uma tradição de monogamia compulsória e vitalícia e isso é dado como sendo o correto. Logo, não sobra muito espaço para refletir seriamente se isso é o melhor pra gente, então simplesmente repetimos o que foi aprendido. Como bem explicou a escritora Laura Kipnis: “Na maioria das vezes as pessoas optam pela monogamia, ao mesmo tempo em que a consideram uma obrigação. tanta pressão social nesse terreno que é difícil separar o que é opção pessoal do que é imposição.”


É possível, então, que nem todos estejam adaptados a essa norma e simplesmente estejam “optando” de forma compulsória. Qual seria as possíveis consequências desta “escolha compulsória”, se é que se pode chamar isso de escolha...


Uma das consequências mais comuns que percebemos é a traição. Segundo diversas pesquisas estatísticas o índice de traição nos relacionamento costuma girar em torno de 50%. Isso porque podemos imaginar que muitos não admitem tão facilmente a traição quando perguntados... Então se o número de pessoas traindo é tão alto, isso prova que grande parte das pessoas não está muito adaptada a essa exigência de exclusividade monogâmica.


Quando a traição ocorre numa relação, isso implica em um segredo e todo segredo de alguma forma gera um afastamento emocional porque tem algo que eu vivo que não pode ser compartilhado com o outro. Além do mais, a pessoa que trai pode ser sentir muito culpada e sofrer com isso. Já o que é traído, quando descobre, também pode sair muito machucado no processo. Vemos então que essa escolha irrefletida pela monogamia pode sim trazer prejuízos pras relações e pros indivíduos...


Além do problema da traição, podemos apontar uma outra consequência desta imposição cultural que é o fato de muitos casais acabarem parando de interagir sexualmente com o tempo e como eles não podem se satisfazer com outras pessoas, acabam por desistir da vida sexual, o que por si só é algo muito negativo.


Freud já dizia há mais de um século que: “(...) as relações sexuais no casamento são satisfatórias durante alguns poucos anos (...) Após esse três, quatro ou cinco anos, o casamento torna-se, pelo menos em relação à satisfação das necessidades sexuais, um fracasso.”


Seu discípulo, Wilhelm Reich, seguiu na mesma linha escrevendo o seguinte: “É preciso aprender a ver claramente o problema do casamento. (...) As necessidades sexuais podem ser satisfeitas com um e mesmo companheiro durante algum tempo apenas.”


Então se você estiver tendo dificuldade para se manter monogâmico em uma relação, acredite, talvez isso não seja sua culpa! A natureza nos projetou de modo a valorizar fortemente a variação sexual... Aliás, costumamos gostar de variação em toda as esferas da vida. Os casais gostam de variar o destino da viagem e também gostam de variar de restaurante de vez em quando, por que não haveriam de gostar de variar de corpos eventualmente?


Uma outra consequência ainda da monogamia compulsória é que um dos parceiros pode acabar responsabilizando o outro pela sua frustração sexual, já que se sente castrado pela outra pessoa. Se isso ocorre, pode haver uma vontade se se vingar do outro pela castração. Esse certamente é um dos motivos pelo qual o casamento costuma transformar pessoas agradáveis em verdadeiros tiranos domésticos.


Acredito que mais do que nunca necessitamos mudar essa cultura de seguir por caminhos irrefletidos apenas por convenção social, que não necessariamente representem a nossa escolha mais consciente. Devemos sim ser encorajados a nos questionar o que melhor atende nossa necessidade. Não dá pra encaixar todos no mesmo modelo porque as pessoas são muito diferentes e cada singularidade precisa ser levada em conta, por uma questão de respeito, de amor. São milhões de pessoas, não dá pra querer enfiar todo mundo em um único modelo de relação! Cada qual precisa criar um modelo de relacionamento que se encaixe nas suas necessidades e não o contrário, se forçando a se encaixar no modelo pré-estabelecido, pois isso pode ser algo bastante opressor.

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