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É possível ser um cristão não-monogâmico?



Essa é uma questão que surge para muitos cristãos que gostariam de viver os benefícios de um relacionamento não-monogâmico. Seria possível conciliar valores cristãos com a não-monogamia? Esta é uma boa pergunta. Certamente depende do que se entende por “ser cristão”. O site liberated christians (http://www.libchrist.com/) busca articular reflexões que contestam essa suposta contradição entre valores cristãos e não-monogamia. O objetivo deste grupo, segundo consta no site, seria a “Promoção de intimidade e sexualidade positivas, incluindo não monogamia ou poliamorismo responsável como uma ESCOLHA legítima para cristãos e outros / Expondo falsas tradições de repressão sexual que não têm base bíblica.”


O site Christian swinger (https://www.christianswingers.com/) é um site que busca unir cristãos interessados no swing. No site consta a seguinte mensagem: “Para os Swingers Cristãos, as coisas não são fáceis - muitas vezes outras pessoas religiosas julgam você, por ignorância ou inveja, dizendo que seu estilo de vida e práticas amorosas estão erradas. Mas a Bíblia nos ensina 'Não julgue para não ser julgado' e há aquele versículo sobre a primeira pedra...” mas se você está interessado em manter sua privacidade (...)este site pode ajudá-lo! Foi projetado para atender às necessidades de pessoas como você: casais cristãos devotos que ainda querem ter uma vida amorosa ativa e compartilhá-la com outras pessoas de boa fé!”


O site brasileiro cristãos libertos (https://www.libertos.info/home) fez a tradução de inúmeros textos sobre essa temática. Em um deles encontramos a seguinte reflexão: “é o próprio Deus quem nos torna sexuais e nos faz buscar intimidade sexual; consequentemente o medo e a culpa que sentimos não vêm de Deus. Nem tampouco é Deus a fonte da punição ou desaprovação que sentimos dos outros, seja pelos pais, pregadores, padres, papas ou outros (...) A condução da expressão sexual para o subterrâneo, pela repressão religiosa, é minimamente parte do estímulo à ignorância, ao comportamento irresponsável e à provocação e excitamento que caracterizam a nossa sociedade. É essa forma de visão da sexualidade que têm impedido o aprendizado da verdadeira intimidade, mesmo em parcerias que poderiam experimentar um ótimo sexo.”


A página do Vaticano na internet ainda hoje insiste em dizer que a “A masturbação, em particular, constitui um distúrbio muito sério, que é ilícito em si mesmo e não pode ser moralmente justificado.” O pior de tudo é que toda essa proibição em cima da sexualidade só fez gerar uma gigantesca obsessão com sexo. Essa é uma lei psíquica básica, tudo que é proibido é desejado, toda repressão gera obsessão. Não é nenhum pouco à toa que 30% de todo o tráfico mundial de dados da internet gira em torno da pornografia. Cerca de 29 petabytes de dados são transferidos pelos internautas todo mês, quase 50 gigabytes por segundo.



Mas no final das contas, a pergunta que não quer calar é: por que é que o cristianismo investiu tanta energia em controlar o comportamento sexual das pessoas? Segundo a pesquisadora Bruna Suruagy do Amaral Dantas, a motivação seria a ampliação do poder político da igreja: “Ao longo da história, a Igreja cristã desenvolveu mecanismos de observação e instrumentos de controle para manter desejo e sexo sob sua tutela com o propósito de ampliar seus dispositivos de poder. (...) Por intermédio das confissões, o clero adquiriu um tipo específico de saber que ampliou o poder de dominação e controle da Igreja. As estratégias eclesiásticas consistiam em utilizar o saber obtido nas práticas confessionais para dominar o corpo e o desejo dos fiéis, tornando-o dócil e obediente, com o propósito de consolidar a autoridade moral e o poder político da Igreja cristã.”


Segundo o psiquiatra Wilhelm Reich, toda essa luta contra a sexualidade teria uma razão muito objetiva, enfraquecer as pessoas para que elas sejam mais facilmente dominadas: “A supressão sexual tem a função de tornar o homem dócil à autoridade exatamente com a castração dos garanhões e dos touros tem a função de produzir satisfeitos animais de carga.” Mesmo antes de Reich, Freud já chamava atenção para o fato de que a castração da sexualidade tendia a produzir indivíduos fracos e submissos à autoridade: “A abstinência sexual (...) com frequência produz homens fracos, mas bem comportados, que mais tarde ser perdem na multidão que tende a seguir os caminhos apontados por indivíduos fortes.”


Talvez, no que se refere ao desenvolvimento sexual, seja mais importante se conhecer do que obedecer a regras de conduta estabelecidas pelas religiões e não tem como se conhecer sem experimentar. E para experimentar é necessário deixar de fora toda preocupação com o certo e o errado e se permitir ser guiado pelo prazer e pela curiosidade, tendo sempre o autoconhecimento e a ética como balizadores da nossa ação. Ética é muito diferente da moral. A moral dita o que é certo e errado, de fora para dentro, sem considerar a vivência interna de cada um. A moralidade insufla a patrulha ideológica dos costumes, que fica pronta para julgar e recriminar qualquer um que saia da linha. Já a ética se refere a princípios universais de respeito e cuidado com o próximo e a si mesmo.


A sabedoria antiga sempre exaltou a importância do autoconhecimento. No Templo de Apolo em Delfos, consta a máxima “Conhece-te a ti mesmo”, bastante semelhante ao provérbio que se encontrava no templo de Luxor, no Antigo Egito: "Homem, conhece a ti mesmo, assim conhecerá os deuses." Sexo é uma necessidade biológica, assim como dormir e se alimentar. Não precisamos de moralidade na hora das refeições, basta fazer escolhas inteligentes e saudáveis. O mesmo vale pro sexo, a regra é explorar e descobrir o que nos faz bem, sem neura e sem culpa. Em resumo, entendo que desde que a intenção seja positiva e nosso comportamento seja ético e com respeito ao próximo, não consigo ver contradição nenhuma entre a não-monogamia e os valores cristãos.

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